Sem jogos

Posted on 16/06/2014 por

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baralho personalizado

 

Por Carol Szabadkai

Nunca fui muito boa com joguinhos amorosos, fazer tipo… Minha sinceridade boba, inocente

– ou mesmo cortante – sempre me deixou em desvantagem. Fui magoada… já magoei com

isso… A verdade pode ser cruel, mas, ao mesmo tempo, é o caminho mais curto para se chegar

exatamente onde quer.

Como confidente oficial das amigas – não sei por quê, mas acabo sempre sendo o “diário”,

até mesmo de quem me conhece faz pouco tempo (ressaltando que eu adoro fazer isso) –

frequentemente dou o mesmo conselho: seja sincera, abra o jogo e deixe as coisas claras. O

que você realmente quer? Pergunte o que ele quer!

Deveria ser óbvio, mas esse conselho constantemente causa surpresa.

Desde o primeiro momento, soube que havia encontrado minha metade e a sinceridade dele

apenas confirmou esse fato:

– Carol, vamos combinar uma coisa? – disse ele, ainda num dos primeiros encontros nossos.

– O que? – respondi com certa apreensão.

– Vamos manter as coisas assim, transparente, sem jogos?

Enquanto eu procurava assimilar o que isso podia significar, ele explicou:

– Não quero fingir que não quero te ligar, esperar a hora certa, o dia certo para isso. Não quero

ter que pensar pra falar ou fazer de conta. Não quero esconder o que eu sinto! Quero poder te

ligar todo dia se tiver vontade e dizer o que vem à minha cabeça.

Sorri aliviada, sabendo que tínhamos mais um ponto em comum. Percebi que estava diante do

verdadeiro “ele”, não uma versão ilusória de primeiro encontro, e passei a amar até mesmo as

coisas em que discordava, porque era ELE, de alma aberta para mim.

– Sem jogos – respondi. – Você não tem noção do quanto eu adoro essa ideia!

Sua sinceridade chegou a superar a minha, pois ele não pensava duas vezes para dizer o

quanto eu estava linda, deixando-me encabulada com seu ar de admiração ou quando não

gostou do meu corte de cabelo – até dei risada com seu desprendimento para dizer a verdade:

“gostava mais do jeito que estava antes”. Em pouco tempo, tudo o que ele dizia tinha um

significado genuíno. Eu sabia que não era somente para agradar que ele dizia que gostava do

formato do meu nariz, que eu nunca gostei. Também sabia que ele não ia fazer tipo, dizendo

que teria muitos compromissos e só poderíamos nos ver depois de um tempo… Fomos logo

nos encontrando todos os dias e lamentando cada despedida. Não fingimos a ansiedade, nem

os medos.

E foi sempre assim, transparente, limpo, sem adivinhações ou indiretas.

Muitos nos perguntam como mantemos, depois de 14 anos, esse aspecto de recém casados,

de namorados que acabaram de se conhecer. Eu daria grande crédito à nossa constante

sinceridade e mania de conversar todos os detalhes, até mesmo – ou principalmente – às

briguinhas de horas, que sempre nos leva ao entendimento alheio.

Por que viver de indiretas? Esperar que o outro adivinhe seus sonhos e os realize? Por que não

indicar um atalho, dizendo exatamente o que espera, para que se possa trabalhar em conjunto

nisso? O relacionamento é um trabalho de equipe, é preciso conhecer muito bem a outra

metade, saber seus próximos passos, para que se mantenha o ritmo, como numa dança ou

um malabarismo – quando largamos a corda e temos certeza de que o outro está com a mão

estendida para segurar.

O verdadeiro “eu”, sempre acaba se revelando, então, ou dá certo, ou não, de uma vez.

Sem jogos. Simples assim.

Evitando surpresas desagradáveis, que em anos serão descobertas, levando ao termino e um

imenso tempo perdido. Montando bases fortes nas verdades, até mesmo nos defeitos – que

fazem parte de qualquer pessoa – dando a chance para uma adaptação à eles… Afinal, se é

pra valer, você ama até aquela mania chata que ele tem, ele ama até mesmo seus acessos de

loucura e o “feliz para sempre” torna-se a realidade de quem conhece sua outra metade como

se fosse a própria.

Sem jogos. Duas almas, a limpo.

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